sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Ontem passei por aqui, depois de todo esse Tempo que me engoliu (ou vomitou). Senti-me mal por não acreditar mais nas coisas que colei nesse mural. E feliz, porque sobrevivi. Não, nunca achei que fosse morrer. Sobrevivi: encontrei nova vida sobre aquela.

Esse jogo de Tempo e Memória é mesmo uma espiral. E a vida um círculo. Nós somos a sobreposição de várias vidas.

Aqui, nesse blog, deixei mais de uma vida. E já estou em outra, algumas voltas pra frente.

Ia apagar essas vidas tão cheias de certeza, porque elas me deram a impressão de que a vida atual, desse Renan que não sabe a que pertence, é feia e perigosa. Viver o presente é assustador. Mas decidi que o blog vai ficar aqui, como uma caixa de lembranças.

Não escrevo mais, não sei porque. Há muito tempo não sinto essa necessidade. Eu só escrevi aqui nos períodos da vida em que estive triste. Tem uns buracos enormes de felicidade, ainda bem. Essa postagem está sendo custosa! Se algum dia eu voltar a escrever, talvez eu mude a cara melancólica desse lugar. Aliás, nem bebo mais coca light. E meu verde tá mais bandeira.

Nas aulas de Interpretação, Alice K., a professora, pergunta: "O que está vivo em você?"
Eu quero saber quanto Tempo se mantém viva a Memória.

Até!

sábado, 22 de agosto de 2009

O quase é mais cruel que o nada: um caco que me machuca e não mais me diz sobre a coisa inteira, que era tão linda.

sábado, 9 de maio de 2009

Hoje contei de novo aquele nosso amor. Do começo. Do que eu lembro. Mas tem aquela coisa que eu não sei contar, que nem lembrança é. Tua impressão em mim. Aquilo que só tinha em você. E que às vezes me pergunto se realmente existiu. Cada vez que pego pra falar de nós, você fica maior, mais sublime. E mais distante. Uma santa que aprendi a adorar.
Queria saber o quanto de mim ainda há em você. Quantificar as minhas chances. Queria de novo convencer-lhe com palavras, ou com admiração, ou com ausência. Queria que minhas lágrimas ainda lhe causassem pena. Ver tristeza que não fosse só minha. Mas já que não penso mais em planejar - agora que o futuro é coisa do passado - a eternidade não me assusta. Viva que eu me aguento. Sobreviver não vai ser o maior desafio. Minha saudade vou esconder pra não te incomodar. Um sorriso grande convence sempre.





quinta-feira, 9 de abril de 2009

Fiquei florido, decombinado,
estampado do teu carinho,
da tua cara descorada.
Desenhei meu sorriso
com teu esmalte vermelho.
Criei olhos de botão desbotado:
inocentes olhos de joaninha.
Meu coração virou borboleta
e voou colorido, querida.

Hoje estou liso,
vestido de roupas murchas.
Não passas mais vermelho
porque vermelho mancha.
A joaninha perdeu os olhos de novo,
e ficou definitivamente sem eles:
a linha acabou.
Resta no meu peito preto
a crisálida vazia e esquecida.

domingo, 29 de março de 2009

Perco-me agora na idéia de que as coisas são, no mínimo, tridimensionais. Coisas, situações, sentimentos. E não só na idéia: percorro agora outros lados. Nem tão óbvio, nem tão fácil. Talvez seja somente assim que se coloca uma tal coisa, uma tal situação, um tal sentimento à prova.
Coisas ficaram feias. Situações perderam graça. Sentimentos viraram nada.
Nem tudo, nem tudo. Existem ainda as coisas, as situações e os sentimentos eternos. E, quando não eternos, evolutivos.
Mas nada disso é perfeito quando uma coisa, uma situação e um sentimento eternos só existem dentro de mim, desprovidos de qualquer crédito alheio. É assim que vivo numa completa desnecessariedade.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Não quero de ti amor sublime: não me deixes ir. Eu sei o que me faz feliz, meu bem. É que essa tal forma evoluída de amar – essa coisa de libertar – não me convence, não. Quero mesmo este amor que fere, amor profano que arranca lágrimas e espalha medo. Amor sem paixão não tem graça, é limitado. O amor que espero tem que transbordar, ser maior que teu corpo para que eu possa senti-lo. Aliás, não me satisfaz senti-lo apenas. Quero amor palpável, amor-terra. Tua nuvem passa, querida, e já nem sei se sabes chover.








terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Menina-Flor

Teu amor, Menina-Flor,
desabrochou junto do meu.
E, por tão grande que floresceu,
pendeu do pé e se escondeu.
Mas olha lá, Menina-Flor, olha lá:
o vento há de pô-lo em seu lugar.
Oh, há – meu amor – oh, há!
A borboleta dos teus olhos, Menina-Flor,
já não beija as minhas bochechas.
Quero as cores que tu deixas,
tão alegres, às avessas.
Mas olha lá, Menina-Flor, olha lá:
há saudade nisso, a me matar.
Oh, há – meu amor – oh, há!
É que tua marca em minha mão, Menina-Flor,
nunca vou poder perder.
E teu perfume, sem querer,
vai exalar no amanhecer.
Mas olha lá, Menina-Flor, olha lá:
o sol um dia há de se apagar.
Oh, há – meu amor – oh, há!
Meu nariz de tinta, Menina-Flor,
pintou de vermelho teu coração.
E agora me parece vão
encher um palco de solidão.
Mas olha lá, Menina-Flor, olha lá:
há de ser palhaço pra sonhar.
Oh, há – meu amor – oh, há!
És Menina-Girassol,
és sim lua iluminada:
gira em fases, quer rodar.
Qualquer hora, minha amada,
com certeza há de voltar.
Oh, há – linda flor – oh, há!