sábado, 31 de janeiro de 2009

Ensaio sobre o orgasmo

.......Num instante, o frouxo fio do arco ganha a rigidez que tenta a flecha. E quando a flecha escapa dos dedos do arqueiro, o instante é só o fio a bambear. Porque a flecha é arremessada para fora do tempo. Então dois movimentos compõem o fenômeno: um material e outro transcendente.
.......E o princípio é uma vitalidade que impulsiona a flecha e deixa o fio oscilando. Uma instabilidade que foge ao controle do arqueiro, o qual se lança com sua flecha conquistando espaços no ar. Fica o ar tão palpável que é rasgado num zunido. A flecha corre suspirando em liberdade e o fio dança condenado ao eixo.
.......Mas para corresponder - ressaltando seu caráter fenomenal - à lei de efemeridade, que é a graça original disso tudo, fio e flecha tendem a estacionar: a vitalidade é toda consumida e acaba. Fica um fio aquecido pela intensidade da vibração de suas moléculas e uma flecha sem força que repousa longe.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

BLOG REINAUGURADO

Reapresentação
.......Ignoro a gramática: o mundo explodiu amanhã. Minha vida se expandiu para além da concordância. O vocabulário é frágil como a fé. E o mundo, relativo como o tempo.
.......Há sempre um espaço crescente entre minha existência e minha vida. A primeira segue no tempo habitual. A segunda, numa dinâmica futurista. E nada entendo de futuro, porque estive fora do presente desde que nasci. Algumas vezes procurei-me no presente, mas ele me pareceu muito antigo. Tentei amarrar-me a ele, mas logo sublimei como naftalina. Levo uma vida dispersa, feito moléculas de vapor. Sou um vapor que não se nota: devo não ter cheiro de nada, cor alguma. Tenho o volume do que me contém. Livre, não encontro limites, mas gosto de às vezes estar guardado, ter as moléculas comprimidas, ser uma unidade.
.......Escrevo porque procuro companhia para minhas idéias. Ora a vida me parece formada por diversos caminhos diferentes que convergem sempre ao mesmo destino, ora por uma única estrada verdadeira, repleta de desvios sem saída – ou sem chegada. A segunda concepção me é mais freqüente.
.......Arquivo esses desvios no meu mural, para que um dia eu aprenda a andar pela estrada verdadeira. Ou para que eu olhe para eles e sinta aquela mistura de lembranças prazerosas e saudade, que chamamos nostalgia.
.......Eu estava lá, como sempre: idealizado no interior de alguém mais sólido. Quando me imaginei dilatado, achei-me preso num recipiente prestes a trincar. E nada dura “prestes” para quem vive o amanhã.
.......O mundo explodiu amanhã. O meu mundo. Ainda vivo numa assustadora expansão...