sábado, 22 de agosto de 2009

O quase é mais cruel que o nada: um caco que me machuca e não mais me diz sobre a coisa inteira, que era tão linda.

sábado, 9 de maio de 2009

Hoje contei de novo aquele nosso amor. Do começo. Do que eu lembro. Mas tem aquela coisa que eu não sei contar, que nem lembrança é. Tua impressão em mim. Aquilo que só tinha em você. E que às vezes me pergunto se realmente existiu. Cada vez que pego pra falar de nós, você fica maior, mais sublime. E mais distante. Uma santa que aprendi a adorar.
Queria saber o quanto de mim ainda há em você. Quantificar as minhas chances. Queria de novo convencer-lhe com palavras, ou com admiração, ou com ausência. Queria que minhas lágrimas ainda lhe causassem pena. Ver tristeza que não fosse só minha. Mas já que não penso mais em planejar - agora que o futuro é coisa do passado - a eternidade não me assusta. Viva que eu me aguento. Sobreviver não vai ser o maior desafio. Minha saudade vou esconder pra não te incomodar. Um sorriso grande convence sempre.





quinta-feira, 9 de abril de 2009

Fiquei florido, decombinado,
estampado do teu carinho,
da tua cara descorada.
Desenhei meu sorriso
com teu esmalte vermelho.
Criei olhos de botão desbotado:
inocentes olhos de joaninha.
Meu coração virou borboleta
e voou colorido, querida.

Hoje estou liso,
vestido de roupas murchas.
Não passas mais vermelho
porque vermelho mancha.
A joaninha perdeu os olhos de novo,
e ficou definitivamente sem eles:
a linha acabou.
Resta no meu peito preto
a crisálida vazia e esquecida.

domingo, 29 de março de 2009

Perco-me agora na idéia de que as coisas são, no mínimo, tridimensionais. Coisas, situações, sentimentos. E não só na idéia: percorro agora outros lados. Nem tão óbvio, nem tão fácil. Talvez seja somente assim que se coloca uma tal coisa, uma tal situação, um tal sentimento à prova.
Coisas ficaram feias. Situações perderam graça. Sentimentos viraram nada.
Nem tudo, nem tudo. Existem ainda as coisas, as situações e os sentimentos eternos. E, quando não eternos, evolutivos.
Mas nada disso é perfeito quando uma coisa, uma situação e um sentimento eternos só existem dentro de mim, desprovidos de qualquer crédito alheio. É assim que vivo numa completa desnecessariedade.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Não quero de ti amor sublime: não me deixes ir. Eu sei o que me faz feliz, meu bem. É que essa tal forma evoluída de amar – essa coisa de libertar – não me convence, não. Quero mesmo este amor que fere, amor profano que arranca lágrimas e espalha medo. Amor sem paixão não tem graça, é limitado. O amor que espero tem que transbordar, ser maior que teu corpo para que eu possa senti-lo. Aliás, não me satisfaz senti-lo apenas. Quero amor palpável, amor-terra. Tua nuvem passa, querida, e já nem sei se sabes chover.








terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Menina-Flor

Teu amor, Menina-Flor,
desabrochou junto do meu.
E, por tão grande que floresceu,
pendeu do pé e se escondeu.
Mas olha lá, Menina-Flor, olha lá:
o vento há de pô-lo em seu lugar.
Oh, há – meu amor – oh, há!
A borboleta dos teus olhos, Menina-Flor,
já não beija as minhas bochechas.
Quero as cores que tu deixas,
tão alegres, às avessas.
Mas olha lá, Menina-Flor, olha lá:
há saudade nisso, a me matar.
Oh, há – meu amor – oh, há!
É que tua marca em minha mão, Menina-Flor,
nunca vou poder perder.
E teu perfume, sem querer,
vai exalar no amanhecer.
Mas olha lá, Menina-Flor, olha lá:
o sol um dia há de se apagar.
Oh, há – meu amor – oh, há!
Meu nariz de tinta, Menina-Flor,
pintou de vermelho teu coração.
E agora me parece vão
encher um palco de solidão.
Mas olha lá, Menina-Flor, olha lá:
há de ser palhaço pra sonhar.
Oh, há – meu amor – oh, há!
És Menina-Girassol,
és sim lua iluminada:
gira em fases, quer rodar.
Qualquer hora, minha amada,
com certeza há de voltar.
Oh, há – linda flor – oh, há!

sábado, 31 de janeiro de 2009

Ensaio sobre o orgasmo

.......Num instante, o frouxo fio do arco ganha a rigidez que tenta a flecha. E quando a flecha escapa dos dedos do arqueiro, o instante é só o fio a bambear. Porque a flecha é arremessada para fora do tempo. Então dois movimentos compõem o fenômeno: um material e outro transcendente.
.......E o princípio é uma vitalidade que impulsiona a flecha e deixa o fio oscilando. Uma instabilidade que foge ao controle do arqueiro, o qual se lança com sua flecha conquistando espaços no ar. Fica o ar tão palpável que é rasgado num zunido. A flecha corre suspirando em liberdade e o fio dança condenado ao eixo.
.......Mas para corresponder - ressaltando seu caráter fenomenal - à lei de efemeridade, que é a graça original disso tudo, fio e flecha tendem a estacionar: a vitalidade é toda consumida e acaba. Fica um fio aquecido pela intensidade da vibração de suas moléculas e uma flecha sem força que repousa longe.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

BLOG REINAUGURADO

Reapresentação
.......Ignoro a gramática: o mundo explodiu amanhã. Minha vida se expandiu para além da concordância. O vocabulário é frágil como a fé. E o mundo, relativo como o tempo.
.......Há sempre um espaço crescente entre minha existência e minha vida. A primeira segue no tempo habitual. A segunda, numa dinâmica futurista. E nada entendo de futuro, porque estive fora do presente desde que nasci. Algumas vezes procurei-me no presente, mas ele me pareceu muito antigo. Tentei amarrar-me a ele, mas logo sublimei como naftalina. Levo uma vida dispersa, feito moléculas de vapor. Sou um vapor que não se nota: devo não ter cheiro de nada, cor alguma. Tenho o volume do que me contém. Livre, não encontro limites, mas gosto de às vezes estar guardado, ter as moléculas comprimidas, ser uma unidade.
.......Escrevo porque procuro companhia para minhas idéias. Ora a vida me parece formada por diversos caminhos diferentes que convergem sempre ao mesmo destino, ora por uma única estrada verdadeira, repleta de desvios sem saída – ou sem chegada. A segunda concepção me é mais freqüente.
.......Arquivo esses desvios no meu mural, para que um dia eu aprenda a andar pela estrada verdadeira. Ou para que eu olhe para eles e sinta aquela mistura de lembranças prazerosas e saudade, que chamamos nostalgia.
.......Eu estava lá, como sempre: idealizado no interior de alguém mais sólido. Quando me imaginei dilatado, achei-me preso num recipiente prestes a trincar. E nada dura “prestes” para quem vive o amanhã.
.......O mundo explodiu amanhã. O meu mundo. Ainda vivo numa assustadora expansão...